quarta-feira, 22 de setembro de 2010



Torna-te aquilo que és.
Nietzsche

A poesia que se faz depois da queda. Sucumbamos. A rude economia das palavras nos versos de Às Origens, de Luzineti Espinha, corresponde à linguagem primeira, seca e ríspida nas imagens que o poeta apresenta. É o presságio da tragédia humana. Vigora a coragem de chafurdar no inferno e se perceber primeiro, oriundo do mais profundo umbral. Trata-se de uma busca alucinante pela existência. O nó de nossa genealogia ainda não foi desfeito.
É o elo perdido exposto na nossa consciência poética. Mas lembremos que do Ser e do Espírito nada se perde. A arte reside na percepção anímica que é fonte inesgotável de conhecimento.

“des
ci
tropecei em mim,
perdi-me de vista
e continuei a
des
ci
da”

A autora se posiciona de forma amargurada diante da incompreensão de nossa origem. De onde viemos é o que importa, todavia para onde vamos, não interessa. A verdade é que nos avistamos “entre os quadrúmanos” e somos mal - más e fazemos muito mal - caca. E retomamos a nossa Origem – MACACA.

Senhoras e Senhores. Apresento-lhes:


ÀS ORIGENS
Luzineti Espinha

sucumbi,
chafurdei-me;
conspurquei-me;
coabitei com os exus
des
ci
tropecei em mim,
perdi-me de vista
e continuei a
des
ci
da
até avistar-me
entre os quadrúmanos
má e caca.

Mozart Carvalho

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