quarta-feira, 2 de março de 2011

Um toque de Genet

tem um toque de genet
nas portas da cidade
sobem as escadas
descem os morros
e o prazer exclama
eriça os sentidos
em um território escuro


bate a porta do carro
um clique dedos inquietos
alarmes acionados
entre bueiros, postes e esquinas
lamparinas umedecem
corpos serpenteiam aos meio-fios
o fôlego por um fio
pronunciam-se as estranhas
rostos rudes
mãos calejadas
atravessam fendas
poros, instintos
agitam os músculos eréteis
marcas proeminentes
dos safados jeans
camisetas alargam os peitos
de pelos revoltos ao sereno
rompem-se as gretas
ancas ordinárias se afastam
o membro se acanha, outro assanha
mãos deslizam sobre zíper latino
hálito morno na nuca
espalmar de mãos dobram o torso
olhos públicos faíscam
teso e reteso nervo
nos arcos das pernas se dilatam
anéis afrouxam gemidos
e a linha passa agulha
em um costurar de emoções vazias



- é, Jean Genet na praça
querrele no largo das noites vagas
arrasta-se nas rodas finas de um carro
entusiasmam os faróis, a partida
a noite é surda
mas o viscoso líquido
na bunda da lua
lubrifica as retinas
lubrifica...

3 comentários:

  1. o CRESCIMENTO É INEVITÁVEL. Teus poemas urbanos são sempre de elaboração primorosa. Gostaria de ter escrito alguns deles... Sou teu fã de carteirinha hein, agora só falta criar o fã clube.
    abração sg

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  2. Sérgio Gerônimo, sigo as cores de um mestre: VOCÊ.

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  3. Poesia é isso: peito aberto, vento na cara, liberdade. A observação e o conhecimento, que nunca alcançaremos na totalidade neste período de vida, são visíveis neste texto.
    Como disse o Sérgio, 'poema de elaboração primosa' e imaginário rico. Uma beleza, querido Mozart!

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