segunda-feira, 8 de março de 2010

Persona: BelaBun

(BelaBun - obra em verso, Gerônimo Sérgio. OFICINA Editores, Rio de Janeiro/RJ. Ed. 2006)


BelaBun já existe na pele e está no imaginário popular. Consagrada nacional e internacionalmente. Bun, mas muito bela. Irreverente e dona de si. Ora recatada, ora extravagante. Recata? Uma BelaBun não pode ser recatada.
Trata-se de uma narrativa poética ou mesmo uma saga errante que floresce na pena de um escritor sensível e ao mesmo tempo ousado. Artesã do desejo BelaBun é, antes de mais nada, o próprio sentido, a forma do bel-prazer. Por que não a força?
A construção poética dessa metáfora sugere a lógica do desejo, do arrepio, do contraponto da leveza. Justificado pelo propósito de reforçar a imagem coerente da vontade e a prática hilária da personagem narradora em contar as suas aventuras, suas alegrias e decepções.
BelaBun é. É o que desejamos ser. Ter olhos que mesmo cegos enxerguem a entrega, e tudo que esteja afinado ao tempo.

Mozart Carvalho

sexta-feira, 5 de março de 2010

Crônica dos Amores

Mozart Carvalho, sobre CONVERSA PROIBIDA de Sérgio Gerônimo & Flávio Dórea

Vamos conversar...

Conversa proibida é a excentricidade, a excepcionalidade da poesia na mão de vários homens Sérgio Gerônimo e Flávio Dórea e tantos outros que se calam na multiplicidade de numa mesma alma.
Essa narração confere ao homem que escreve um poema para sua própria alma, confessando seu amor, sua angústia, sua decepção – poema narrativo, quando ainda luta para agarrar-se ao amor. Repare, amigo leitor, o poema já traz em si a temática das paixões homo e heterossexuais.
Não há dúvida que as questões apresentadas na obra sejam muito mais complexas. Será necessário ter olhos de lince e a leveza de uma pena para captar as sutilezas da ordem em questão: O Amor. Não se trata de uma mera oposição entre natureza homem verso homem, mas a sutileza do cerne, da biologia, da genética. Não tão só explicada pela educação a que nos submetemos e somos educados. Tangencia o lado religioso, uma conferência barroca de almas conflituosas e ao mesmo tempo corajosas que lutam por uma nova ordem.

“encurtado os encontros e desencontros
o rápido e o breve
como um flash intrometido
ansiava estar pronto
ao que indicara
ser a ciência do ato – a permissão.” (Conversa Proibida)

A obra não tem a pretensão de tratar da dicotomia homossexual e heterossexual, mas da natureza do homem revestido dele mesmo. Afinal os seres humanos são capazes de manter vidas sexuais que pareçam contrariar seus mais profundos desejos.

“Todos nós possuímos uma caixa preta dentro do nosso corpo visível. [...] e as vontades mais secretas de nossas bibliotecas-espelho, um alterego padrão, ou melhor, patrão [...]”

Os versos não contrariam o ato homoerótico e ao mesmo tempo não justificam a sexualidade não normativa ou desviante, pois seus versos-argumentos estão depondo a favor da natureza desse homem, o homem que sente a prática sincera do seu sexo.

“ele ou ela
munidos de mandingas e
frequências malandras
reproduzem o cotidiano
de todos os seres
tão obedientes quanto desconfiados
dos resultados que poderão se apresentar
ao paladar sôfrego
de um outro paladar.” (idem)

Não julgo que o processo poético caminhe pelas veredas dos rótulos. Talvez os preconceituosos estejam pensando de forma bastante cartesiana e analisariam como uma obra basicamente homossexual.
Pensemos na essência. Considerada por todos como o caminho do próprio conhecimento com a máxima citada por Platão γνῶθι σεαυτόν “conheça a ti mesmo” e pedra angular da filosofia de Sócrates.
Com base na obra de William Naphy, percebemos que “o essencialismo sugere que a , por exemplo, não é apenas uma predisposição genética, mas algo fundamental e decisivo para identidade de um indivíduo (portanto, mais como a condição de judeu, que tem conotações étnico/genéticas e religiosas/culturais).
Entretanto não podemos esquecer que a sociedade reage de maneira diferente aos rótulos. O importante é que essa identidade é verdadeira e inerente ao indivíduo e à condição humana. Sergio&Flávio é a identidade, são, verdadeiramente, aqueles que entendem a vida como a pluralidade de sentido porque ele/ela vive numa sociedade de invólucros e que ainda classifica em categorias comportamentais os homens.
“Conversa Proibida” é a obra mais liberada e um sincero bate-papo entre amantes que arrastam uma existência de vida. São versos que desnudam e rasgam a própria carne:

“sacrifique o caos reinante
por uma paz articulada
entre o gozo e um possível fingimento”

Se me permitirem, caro leitor, divagar em meus loucos pensamentos. Conversa proibida é o que está velado entre os amores. O que está selado entre dois homens-amantes, onde as veias pulsam, vibram e bombeiam o sangue fresco da obra poética. São eles que oferecem um revolucionário, mas não original, jogo de narradores – dentro de um imenso monólogo. O “eu” é o “outro” (ele) sem fronteiras. São casados? São amantes? É uma única identidade, uma incógnita absoluta.
É “Esaú e Jacó” apaixonados. É outra história de amor. É o conto bíblico revisitado. Um amor sem barreiras, sem fronteiras. Amor que questiona corajosamente a construção “alicerçária” de qualquer casal com suas multiplicidades de visão. Ou mesmo, a DI-VISÃO que une e eterniza.