segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

FLORESCER

as distâncias
são longas
meus olhos
não podem alcançar...
alçam as lágrimas
o horizonte
um vazio nos pés
um desamparo
e mais nada...
ávido de descobertas
luto, almejo
conquistar o vácuo
- o que é vago

o grande abandono
que rasga meu desejo
em extensos fios...
os brotos florescem
de árvores ocas
que persistem vencer
em áridas terras
de algum espaço
ninhos de dúvidas traiçoeiras
acorrentam a solidão
em asas vaporosas
no encontro
de um qualquer amanhã
Mozart


"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar." William Shakespeare


domingo, 8 de janeiro de 2012

NOVENA

nem eu, nem tu

nem a mulher ou homem
qualquer pessoa poderá rezar essa liturgia
tão certa é a oração
como o poeta com a pena na mão
a interpretar e anunciar
a peripécia do desfecho da vida
a mulher anda com terço nas mãos
o homem faz novena
noventa por cento dessa população
ora pelas dores que não são suas

poeta velho
o pano cai
o rosário desfiado cala
o cortejo segue em frente
para as luzes acalorarem
no caminho
os tropeços acompanham
em silêncio
calando soluços
do dia a dia

MOZART

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Vícios sombrios

cavalos sombrios
arrebentam veias
correntes
fluxos sangrentos
do veneno
tua parte morta
o corpo degenera
a decência corrompe
enrijece teus ossos
e só o tempo
só a dor instaurada
tentará reorganizar
o que foi perdido
o que foi sentido
quiçá sentido há?
carcaça de vício
esfoliando
camada por camada
do teu frágil corpo
o ranger de dentes
perdidos e malditos
tímido equilíbrio
morteum
agora tu apodreces
no abandono
corroído por vermes
fezes e germes
digerido por teus abutres
bactérias e peles
carne da tua carne
feridas semiabertas
frascos de vidros empeçonhados
sêmen e angústia
dentro o cheiro do fruto
penumbra saudosa
dos gomos e herança
de todo fim

Sabe...
não faremos mais histórias
só lembranças de ódio e pesares
como teu espólio.

(quando se perde alguém, só o desenfrear de cavalos selvagens apontarão o novo norte da vida. Com sorte me ajudará a sobreviver com dor e lembranças. E recontarei histórias. Refarei caminhos - nunca antes trilhados - 28/12/2011)

domingo, 27 de novembro de 2011

Renascer


São as horas
que tiquetaqueiam as manhãs
o tempo voa
como ave de rapina
implacáveis
nas verdes campinas
ventos brandos
sopram friamente sobre o peito.

Na soleira
o hálito fúlgido do sol
dobram e quebram-se como vidro
areia revolta
no fundo das águas

Explodem nos poros
um susto...
um bem-vindo surdo
silenciando fortes trancas e ferrolhos
os olhos mágicos
são cegos

tudo é tão frágil
rígidos dormentes
espraiam-se em pó
nada sustenta mais a solidão

O corpo relaxa
nas curvas das costas do ancião
a madeira da cadeira de balanço
permanece ziguezagueando
sob os pés da mesa

A casa...
o velho corpo
e os sinos dobram
no equilíbrio das ondas do tempo
comemorando solitariamente
o renascer...

Mozart

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

ARROUBOS

Por vezes

Erik Satie invade meus sentidos
Divago sobre os acordes
notas de cada melodia
cruza, abusa da morte
E ressuscita rusticamente
Das minhas entranhas

A música sobrevive o presente
Uma abdução passageira
Retalho-me em paisagens
Não existe um lugar
A dor é silenciosa
Incapaz de capacitar à cura
Devoro-me delicadamente
Enredando em um novelo de lã
Tomo a agulha
A linha e costuro tramas interiores
Nós apertados desfazem-se
Arromba a porta
O som invade o quarto
E expulsa lentamente
os bárbaros
os solitários arroubos
Um surto generoso
Sustenta o dizer
A loucura de estar
Aqui sem mim.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Olhos

espreitam as veredas,

iluminam as fendas
os corações enamorados
olhos
de soslaio
arrepiam e sussurram
sustenidos beijos
que eriçam a nuca
Mozart

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Afogados


Arrasto-me levemente

o peso das correntes
estrangulam artérias
o sangue explode de raiva
o corpo afoga-se
no ritmo surdo dos bambas
embriagados de segredos
dançam nas curvas serenas do acaso
cicatrizam-se os nós
fazemos sinuosamente
na ponta da agulha
o sinal da cruz
que nos abandona
rejeita e perdoa
suburbanas noites marotas
nos espreitam
nas emboscadas da vida
uma rua aqui, uma viela ali,
e o rastro...
pode apostar
a vida é um surto
quando se refaz
o destino falece
sobre nós

domingo, 3 de julho de 2011

M.A.Ç.Ã

Obsceno prazer

orexia voraz
capaz de sorrir
sobre o vermelho
da casca fugaz
perfumado desejo
subterrâneo
pomo saboroso
de cabo à semente
que resguarda molhadinha
o vigor do novo fruto
destino trapaceiro
vil e vicioso aromas matutinos
és macieira frondosa
capaz de trazer a calmaria
em chás matinais
MOZART

domingo, 26 de junho de 2011

C.E.L.A.

existe uma trave

nos olhos suaves das manhãs
há uma estrela brilhante
no fundo da parede
fez-se luz o sangue
a penumbra despede-se
radiante na grade
o negrume se estende
em paredes lambuzadas
e viscosas de vícios
sombrio o mundo desfaz-se
nos olhos assassinos
dos sem-culpas
a força imponente
de membros desejosos
calam em espasmos jocosos
a cela fria preenche
saliva, língua, suor
- sexo solitário
prisioneiro gozo matinal
o vazio persegue
o cassetete desliza
no torpor da carne espalmada
de um caminho sem fim
Mozart

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Cravo



(...) a imaginação é muito mais importante que o conhecimento. EINSTEIN
 
tenho em mim
um gesto voraz
uma raiva contida
que luta e espera
no hall das verdades
o meu segredo
estende-se à dor
que não consigo
superar e libertar
o sorriso contrito
é flor, é cravo
meu sangue arado
em terras de ninguém
a queda é fruto
cativo do inesperado
um punhal silenciado
a resolver no meu peito
o alvo de tudo que travo.
Mozart

domingo, 19 de junho de 2011

...INESQUECÍVEIS...

sonhos memoráveis
sombras da vida
árvores sem fruto

coração empedernido
inverno pleno
um sol tímido

aquecendo o gelo
derrete em lágrimas
toda solidão

pássaros canoros
vagueiam

no abismo

azul de primavera
o vento rasga a carne
assobia

silenciosamente
anunciando
verão de sangue.

Mozart

domingo, 12 de junho de 2011

Brasileiro

10/06 - dia da Língua Portuguesa
não quero enterrar-me
numa cadeira vazia
num canto da sala
ou nas esquinas das vias
não quero navegar
nas enseadas do Tejo
sem poder sentir

o batel vaguear
o mar bravio desfalecer
nas ondas brandas do passo
não quero afogar-me nas letras
no ultimo sopro das palavras
quero lembrar a Lisboa do meu tempo
de um Castelo de São Jorge sem templo
dos Jerônimo, Vasco e Camões
a imponência de Pombal
a luz nas praças
o tal déspota esclarecido
que decidido bradou
por toda Lusitânia
o seu amor por Olissipo
quero o amor dos gentios
que devoram os pastéis de Belém
nas barrigas de deliciosas freiras
quero enterrar-me nas poltronas de livros
e revisitar minha língua
minha pátria, minha vida
pois se Portugal é meu pai
eis seu filho: Brasileiro

sexta-feira, 3 de junho de 2011

URBANOSEMCAUSA - NY 2011

my city

BRASIL - Rio

sometimes

I see the city

away from eleventh floor

the avenues are lost

at eleven o’clock

time is scarce

the departure is set

the buildings wake up

I see the lights

star-like points

domed asteroids

potent supersonic motors

traces of brilliance

bombarding the universe

sometimes

near by the city

the dusty is the same

the creature is the same

the souls diverge

sex is fun

along the hills

against the barriers

prohibition or not

you know

in the city

sometimes

whatever.

Mozart

translation by Dr. Ines Shaw

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Pelos ares...

Nas sinuosas rotas da miséria
o perfil sombrio da corrupção
devora o trabalho
as escravas noites
ainda labutam
nas fagulhas odiosas
da mentira política
o planalto aquece
as mps continuam
carbonizando os operários
de rotina
as garras de lobos ferozes
atormentam
dilaceram carnes
vão todas
pelos ares...

é...!

tudo pelos ares
provocando o nosso terror
de cada dia.
Mozart

sexta-feira, 20 de maio de 2011

OFF BROADWAY

Meu silêncio na calçada


Desequilibrando as pernas

Embriagado de verdades

Berra, xinga – pinta e borda

Times Square

Realidade e sonho

Trapos e farrapos

Na Quinta Av.

Meu silêncio é aurora

Costurando as ruas

Veredas e bueiros

Na rua 42...